Aprender uma nova língua, conhecer pessoas do mundo todo, vivenciar outra cultura. Tudo isso pode ser proporcionado de uma única vez através de um intercâmbio. Muita gente tem vontade, mas poucos tem coragem. Mas, foi o que fez a jovem Aryane Jeremias Longuinho, 26 anos, ao sair de Braço do Norte há três anos rumo à Irlanda, na Europa.
Além do conhecimento e vasta experiência que trouxe na bagagem ao retornar definitivamente em dezembro, ela trouxe também um grande amor. Guilherme Schmidt Tomasoni, 22, há um ano deixou Blumenau, no norte catarinense, em busca dos mesmos propósitos, e a cidade escolhida também foi a capital irlandesa, Dublin. Bastou o encontro e as afinidades para justificar o namoro de 10 meses.
Os dois se conheceram no dia 17 de março do ano passado, quando é comemorado em todos os países da língua inglesa o Saint Patrick’s Day, um dos padroeiros da Irlanda. “É a maior festa do país, onde as pessoas vestem-se de trajes verdes, saindo às ruas em uma longa caminhada festiva. Nos conhecemos nesta festa, através de um amigo polonês em comum, que nos apresentou, e algum tempo depois já estávamos envolvidos um com o outro e namorando”, relembra ela.
Mas, até chegar lá, a jovem, que atuava no setor contábil, conta como foi tomar a decisão, deixando trabalho, família e amigos a milhares de quilômetros e ‘mergulhar’ num país totalmente desconhecido até então. “Nos dias atuais, o inglês se tornou idioma universal, e praticamente item obrigatório para que o canditato consiga uma boa colocação no mercado de trabalho. Para isso, nada melhor do que aprender outra língua com nativos. Então decidimos ‘apostar nossas fichas’ na oportunidade de conhecer e viver a cultura de outro país, no qual o idioma principal fosse o inglês”, conta Aryane. O namorado justifica a escolha. “Quando optamos por aprender o inglês com nativos, surgiram várias opções: Austrália, Canadá, Inglaterra, Estados Unidos, Nova Zelândia e Irlanda. Acreditamos que um dos fatores principais que influenciou nossa escolha, além da facilidade em tirar o visto para estudante, foi a oportunidade de morar na Europa e a facilidade de conhecer os países vizinhos”.
De acordo com a braçonortense, pelo fato de conviver com tantas notícias ruins no Brasil e estar indo para um lugar com muitas diferenças, como cultura, alimentação, clima, idioma, entre outros, inicialmente foi difícil a aceitação da família. “Tanto a minha família, quanto a do Guilherme, tiveram medo do que pudesse acontecer conosco lá. Mas depois de passarmos maiores informações, viram que realmente esta seria uma boa ideia e que a hora de ‘arriscar’ era aquela”, lembra.
Não ser fluente na língua e tampouco ser um membro da união européia, faz com que os brasileiros em geral busquem subempregos para ter uma fonte de renda, porém, eles garantem que não há desigualdade social. “Todos são tratados de igual para igual. Indiferente de classe, raça ou nacionalidade”, afirma Aryane.
Para as mulheres há maior facilidade de conseguir empregos na área de “au pair” ou “nanny”, as conhecidas babás, entretanto, aí surge a dificuldade para se adaptar com a cultura da família. Mas, foi nisso que apostou a braçonortense. Desde que chegou a Dublin, passou a trabalhar como “au pair”, morando com uma família irlandesa e cuidando de três crianças de cinco, três e dois anos, dez horas por dia, cinco dias por semana. “Não havia desigualdade da parte da família, que me tratava como um membro familiar. Nos jantares, festas e viagens que a faziam, eu sempre era convidada a participar e sem nenhuma despesa”, conta ela, que além do trabalho, estudava quatro noites por semana.
O namorado Guilherme atuou em vários empregos. Dividia um apartamento com mais dois estudantes, um irlandes e um francês. Diferente da namorada, que tinha todas as despesas inclusas, Guilherme precisava pagar aluguel, eletricidade e comida. Começou vendendo jornais no semáforo, passando a agente de limpeza em eventos (Show Kings of Leon), depois trabalhou em dois restaurantes como lavador de louças, e ajudante de chefe de cozinha. Ainda atuou em um hotel como camareiro e, por fim, teve dois empregos ao mesmo tempo para aumentar a renda. Trabalhou em um hotel como carregador de malas e em uma loja como atendente e repositor de mercadorias. Sua jornada era de aproximadamente 45 horas semanais também estudava a noite, quatro dias por semana.
Saudade
A comida típica brasileira foi um dos pontos mais fortes que fizeram Aryane e Guilherme sentir falta do Brasil, além , é claro, da segurança de ter os famíliares e amigos por perto. “Porém, para lidarmos com isso, conversávamos com todas estas pessoas frequentemente pela internet (webcam) e em alguns finais de semana fazíamos um almoço típico brasileiro, como feijoada, churrasco, caipirinha, com os ingredientes que comprávamos em lojas que vendem produtos brasileiros por lá”, ressalta ela.
Lazer
Segundo os jovens, a vida social na Irlanda era intensa. As horas de folga eram o momento de reunir os amigos brasileiros e de diferentes partes do mundo em seus apartamentos, em pubs ou festas. Diferente do Brasil, lá nada é muito caro. As bebidas são baratas e a maioria das baladas são de graça.
Também frequentávamos cinemas e viagens a dois nos finais de semana para algum país da Europa”, lembra Guilherme.
Essas viagens possibilitaram aos dois conhecer 15 destinos. “Primeiro fizemos uma viagem para a Alemanha. Como já frequentávamos há algum tempo a Oktoberfest do Brasil, em Blumenau, tínhamos curiosidade em conhecer a original, de Munique, na Alemanha. Então programamos nossa viagem dois meses antes para conhecer a festa e aproveitar para conhecer o país. Foi uma viagem de uma semana, onde visitamos a cidade de Munique, sede da festa, Frankfurt e a capital alemã, Berlim”, diz Aryane.
Para fechar o intercâmbio com chave de ouro, o casal fez um “mochilão” pela Europa, passando pelas principais cidades do mundo. Em 45 dias conheceram a Escócia: Edinburgo; Itália: Roma e Veneza; Espanha: Madri, Barcelona e Ibiza; França: Paris; Bélgica: Bruxelas e Charleroi; Marrocos: Marrakesh; Suíça: Genebra; Holanda: Amsterdam; República Tcheca: Praga; Inglaterra: Londres; e Noruega: Oslo. “Esta uma viagem foi engrandecedora, tanto pessoalmente como profissionalmente. Tivemos que nos virar sozinho com acomodação, transporte e alimentação. Vivenciamos um pouco da cultura, festas e comidas locais de cada país”, salienta ela.
Mas, além da cultura, o que muda de um país europeu para o Brasil? Ambos acreditam que a maior diferença é a educação e o incentivo à mesma. “Ao contrário do Brasil, lá as pessoas não te julgam pelos bens materiais, ou pelo seu estilo de se vestir. Mas sim, pelo seu caráter, pela pessoa que você é. As crianças aprendem desde pequenas sobre a reciclagem de lixo, a importância de preservar o meio ambiente. Os supermercados não lhe dão sacolas plásticas, pelo fato de agredirem à natureza. Você precisa de sua própria bolsa para transportar as compras até em casa. E, de uma maneira geral, a qualidade de vida é muito boa, você paga impostos para ter saúde, ensino, ruas pavimentadas, e o governo realmente te retribui por isso”.
A hora de voltar
Pelo fato da economia brasileira estar em ascenção, e hoje ser a quinta maior em nível mundial, os catarinenses decidiram que era a hora de voltar e lutar por uma boa colocação no mercado de trabalho. “Já havíamos concluído o curso de inglês e desenvolvido mais dois cursos voltados à nossa área, Businness e International Relations (Negócios e Relações Internacionais), além de termos feito uma grande viagem pela Europa. Estávamos com nossos objetivos cumpridos”, enfatiza Guilherme, que no Brasil atua na área de exportação.
Além de tudo, suas famílias e amigos estavam à espera para matar a saudade. Saudade essa que mudou de lado. “Estar junto de nossos familiares é satisfatório. Ter este ‘calor’ brasileiro é muito bom. Porém, a Irlanda faz falta em nossas vidas. Nos primeiros dias de volta foi difícil a readaptação, principalmente em relação à educação das pessoas e ao clima, tendo em vista que saímos de lá com uma temperatura de -4 graus e chegamos aqui com o claor de 30 graus. Mas esta é nossa realidade, e precisamos nos readaptar com ela. A Irlanda com certeza ficará marcada para sempre em nossas vidas. We gonna miss there! (Nós vamos sentir falta de lá!)”, finaliza Aryane.